O PLACAR 67 NO TORNEIO NAE

No primeiro ano da Epcar, no mês de setembro, foi disputado o Torneio NAE no Colégio Naval em Angra dos Reis – RJ. Nessa época somente as modalidades de Basquete, Volei e Fut Sal eram disputadas.

As equipes da Epcar eram formadas pelos alunos dos dois anos de BQ e o 3º Ano sediado na então Escola da Aeronáutica nos Afonsos. A equipe de Basquete da Turma de 65 era o “bicho”. Formada por atletas de todo Brasil que jogavam muito e “por ouvido”, com o agravante de serem treinados pelo Kanela – Tec da seleção Brasileira e pelo Algodão – bi-campeão mundial. Essa equipe era tão boa que ganhou todos os torneios disputados, tendo inclusive vencido a NAVAMAER quando ainda não eram Cadetes. A grande característica dessa equipe é que eles faziam 65 pontos no adversário e como ainda não havia as regras de hoje, “matavam o tempo” para manter o placar.

O SO Valter (Valtinho), atleta do Flamengo e auxiliar do Kanela, foi a SBBQ e em um treino selecionou o 66-102 Pedro Paulo e eu, 67-092 Mariano. Lá conhecemos os Al 65: Waldemar (RJ), Franceschetti (RS), Júlio (BQ-MG), Celsão (RJ), Walter (PA) e mais alguns que não recordo os nomes.

Fizemos dois treinos nos Afonsos e seguimos para Angra dos Reis. Lá foi uma loucura. Ficamos alojados em uma casa de 3 cômodos, em “Triliches” com cinto de segurança no peito e nas pernas. Adivinha quem ficou lá em cima, a 30 cm do forro e sentindo que qualquer tosse cá embaixo era um terremoto lá em cima? (Adivinhou quem falou: - O 67!) A única vantagem desta casa é que ficava a 30 m do mar.

Não nos deixaram treinar no ginásio, mas conseguimos fazer um “reconhecimento” de 50 min na hora do almoço. E nesse apronto, eu e o Pedro Paulo fomos escalados como titulares. Vencemos a EsPCEx por 65 x 49, No dia seguinte o CN venceu a EsPCEx. Ficando a decisão para a noite seguinte.

A segurança dos “65” era tanta que eles só levaram 7 jogadores, com os de BQ fez-se um plantel de 9, quando a regra preconizava 12. O jogo foi um passeio, não obstante o ginásio cheio, torcida aguerrida e muito barulho. Waldemar, Capitão e armador da equipe, controlava o jogo que nos mantinha sempre com a vantagem de 10 pontos. Nos 3 minutos finais chegamos ao placar de 65. A partir daí foi só troca de passes e firulas. Aí, me deu uma grande idéia... de Jerico: Vou fazer o placar 67!

Aguardei um pouco e quando senti que o jogo iria terminar, peguei uma bola na lateral da quadra e com um belo “Jump” de meia distância fiz 67.

Pronto, placar lindo: 67 x 52.

Pô! Que foi aquilo? Nem cheguei a comemorar.

Todos vieram para cima de mim, babando de ódio. Designando-me de Bicho escroto, Cagapau, Bisonho e outros adjetivos impublicáveis, para me dizer que tinha quebrado uma tradição de “zentos” anos, que eu ia pagar até morrer, etc.

Waldemar, o capitão – carioca malandro da Boca do Mato - pediu tempo, acalmou os ânimos, me mandou marcar o contra ataque lá no outro garrafão (ou seja, eu estava fora da ação de ataque) e armou uma jogada. Aguardaram a saída do adversário, tomaram a bola e em três passes chegaram à tabela adversária e fizeram o placar 69. A bola saiu e terminou o jogo. Recebemos o Troféu, medalhas, parabéns, etc. Voltamos para o alojamento.

Aí começou a pauleira. Paguei tudo que é modalidade de castigo: flexão, canguru, barreirista, pulinho de galo, Peitômetro, calômetro, abdominal e até pinguim (...essa eu não conhecia!). Neste momento entra o então Ten Cardoso (um Of Int, magrinho, alvo e ajaponesado que jogava muito Futsal) - Chefe da delegação. Ao vê-lo, respirei aliviado e pensei: Estou salvo!

Ledo engano. Só ouvi a voz autoritária: “-Isso mesmo! F... êle! Bicho cagapau tem que se f...”

Quando eu estava pré-morto e eles cansados de cobrar, me dispensaram. Para sair da área de visão e evitar uma recaída de algum deles, resolvi tomar banho de mar.

Mal entrei na água, surge um militar de branco, polaina, caxangá e espadim, se identifica como Al de SV e me informa que é proibido o banho de mar à noite. Isso em um tom mijatório de dar inveja. Agradeci a advertência e com essa admoestação pedi a Deus que fosse o final do ciclo de “marretadas”.

Voltei para o Aloj e após o banho, dormi como uma pedra. O Pior é que no dia seguinte acordei para o encerramento todo dolorido, mas a dor maior foi a frustração de não ter conseguido manter o placar 67.

Natal – RN Inverno de 2014

Mariano, MMM - 67-092