O BAXO RECOLHEU O TREM DE POUSO

Dia 16 de abril de 2016. Um dia de tom cinza-triste para turma 67-BQ. A poderosa Turma Mete-a-Cêpa perdeu um dos seus mais ilustres, dedicados e eficientes integrantes: 67-018 Sílvio Veloso. Exímio Desenhista, Caricaturista e Gozador por excelência. Representava como ninguém os pormenores da turma como Navio Negreiro, fila do rancho, marcha da 4ª feira com o Cap Alfacinha, codinome do Cap Ex Machado (um super herói de capa e Colt .45); as noites insones do Kaol (picados pelo Bicho da Cêpa), Torneio Lima Mendes, Desfiles de 7 de setembro, A legião dos amigos da Miss Correio, aulas do Quincas PD, do Nuska ou de Francês com o “Manolo” ou a Stella; a publicação dos Estaninos no Cabangú; enfim todas as passagens da turma eram registradas pelo nosso “Baxo”.

Gaúcho de bombacha e guiaca, gaudério legítimo, não perdia uma oportunidade de aparecer nas rodas de papo, declamando “O Trepador Campesino”, encerrando sempre com o bordão: “Já comi onça, lagarto e tatú; Só não comi maribondo porque tem ferrão no ...” Esse era o Gaúcho Baxo!

Dentre as muitas realizações na Turma, acredito que a maior foi a “SENTA A PUA”. Ele liderava, com uma eficiência silenciosa e producente, uma equipe executiva de alto nível, encabeçada pelo Couto (67-015); Godoy (67-014) e outros colaboradores menores. Mas o Veloso e o Godoy eram os redatores, desenhistas, diagramadores, continuístas, paginadores, revisores, fotógrafos, delineadores de pauta, selecionadores e provedores de artigo; enfim... batiam escanteio e corriam para cabecear. Eram tudo! Foram muitas noites insones ou mal dormidas, muitos feriados e licenciamentos dispensados e muita dedicação.

Aliás, a amizade cultivada por essa dupla na Turma A do 1° ano, consolidou-se nos anos posteriores tornando-os um par inseparável. O Godoy o chamava de “Tôco” e este o alcunhou de ”Taturana”.

As noitadas dessa dupla sempre foram famosas. Certa vez, na reunião matinal do estágio de vôo, de Segunda feira, em Natal, o César (67-418) quase teve um enfarto ao se deparar com o Godoy ainda embriagado. Apavorado com a possibilidade de que algum IN o visse naquele estado, pediu ajuda e chamou:

- Vem Godoy, vamos para o 3º EIA! (Vestiário dos Alunos, normalmente transformado em dormitório alternativo.)

- Vou sim, mas traz o “Tôco” que está dormindo na cadeira do “Twist”!

O “Baxo” dormia um sono “etílico” na cadeira do engraxate na entrada do estágio. A propósito, “Twist” era apelido do engraxate que era deficiente físico e seu andar era muito parecido aos passos dessa dança que era o ritmo do momento.

Ao chegarmos nos Afonsos, a primeira providência da dupla foi comprar um carro. Um “SIMCA” modelo Jangada ou Chambord; e, a seguir alugaram um apto em Copacabana para canibalizar, ou seja: Comer gente! Creio que o Nepomuceno (67-133) chegou a morar com eles. (Não há registro que tenha sido canibalizado!!!)

O Simca, preto com detalhes amarelos na lateral, tinha a bolacha “PACÒ” pintada no capot. Esse morcegão foi palco, coadjuvante e figura principal de mil histórias e estórias. Uma delas ao aportarem na praia da barra da tijuca, acelerando fundo e fazendo “glissagens e derrapagens” para estacionar e aparecer como se não bastasse a estampa do veículo e seus ocupantes. Deixaram o carro e foram à luta.

Na volta, foram surpreendidos com a palavra VIADO, riscada em letras garrafais acima do “PACÓ”. O Godoy que não tinha pavio, mas “umbigo”. Explodiu: Ia matar, esfolar, capar, etc. Rodou a baiana, comeu areia, cuspiu maribondo, urrou, xingou e outras “coisitas mas”... O Baxo se afastou um pouco... olhou... pensou... tornou a olhar... pensou mais... e por fim falou:

- Fica quieto Taturana! Me dá a chave de fenda de cabo azul do porta luvas.

O Godoy, ainda resmungando, pegou a chave e viu o Veloso, calmo e tranquilamente, refazer as letras riscadas e acrescentar um “A” e um “R” no início e no final da palavra. Saindo com o garboso letreiro “AVIADOR” gravado no capot do morcegão.

Esse era o nosso “Baxo”. Figura que se não existisse teria que ser inventada.

Este gaudério deixa a sua marca onde passa. E na Turma Mete-a-Cêpa não foi diferente. Sua figura será sempre associada a voz macia e pausada; seu rosto iluminado pelos olhos brilhantes e um sorriso satírico a anunciar uma ironia ou encarnação.

E o Baxo recolheu o Trem. Subiu e provavelmente vai baixá-lo para pousar na pista do campo eterno dos aviadores. Aí, já deve ter assumido o controle da seção de sátiras e registros gráficos. Provavelmente já acampou no saco de Teófilo; ilustrou as atividades do CU (Crioléo Unido) liderado pelo Menezes, Coutinho e Nepomuceno; respondeu memorando do “Big Boss” com o “Deveis informar” quem é o “camisolão com barba de bode”; deu esporro no Godoy por ter subido antes, sem lhe esperar; enfim, desde que chegou nos campos elísios este não é mais o mesmo.

O Baxo não se despediu, apenas se afastou. Ele estará sempre presente nas nossas lembranças, nossos encontros e no nosso meio.

E com a permissão do nosso irmão Ferreira (67-004): -“Tá faltando mais um na nossa Reta!”

Natal (RN), Inverno de 2016

Mariano, M M - 67-092