MUITAS VEZES A VITÓRIA ADVÉM DA DERROTA

Fiz concurso no segundo semestre de 65 para entrar na Turma de 66 da EPCAR. Passei no exame intelectual, passei no exame médico, mas quando chegou o exame psicotécnico, na parte da entrevista com o psicólogo, levei bomba sob o argumento de que era instável emocionalmente. ("Instabilidade emocional" era o chavão usado na época).

Resolvi fazer o concurso, de novo, no ano seguinte. Passei no intelectual (ou seja, burro eu não era!), passei no exame médico e quando chegou a fase da entrevista com o psicólogo simplesmente menti pra caramba, respondendo tudo ao contrário do que havia respondido às perguntas do ano anterior, já que estas eram praticamente as mesmas (coisas do tipo: "Você já voou alguma vez?"; "Tem medo de avião?", "Por que você quer entrar na Aeronáutica?", etc. e tal...). Resultado: passei.

Mas o destino dá voltas, e algo no mínimo inusitado, pelo menos para mim, estava para acontecer bem mais tarde.

No segundo ano fiquei "REP" e naquele mesmo ano consegui certificado de conclusão do "curso científico", depois de prestar exame de oito matérias (Artigo 99) no Colégio São Paulo (em São Gonçalo - RJ), durante as férias de julho da EPCAR. Naquele mesmo semestre me inscrevi no concurso para a então Escola de Aeronáutica, numa tentativa de ser aprovado e voltar à nossa Turma que seguia para os Afonsos e Natal. Fui aprovado no exame intelectual em décimo quarto lugar (aliás, o Marinho "Pré-Cadáver" também passou nesse concurso), fui aprovado no exame médico, fui aprovado nos testes físicos aplicados lá nos Afonsos, tendo, inclusive, levado trote dos cadetes de 64, 65... Mas quando chegou o bendito Psicotécnico, o psicólogo, um Capitão, com uma pasta na mão, folheando alguns dados, foi logo perguntando:

- Você está na EPCAR?

- Sim, respondi.

- Em que ano você está? - continuou ele.

- Estou passando para o terceiro ano, Capitão. Sou da Turma de 67. É que tendo ficado repetente, estou tentando voltar à minha turma que está vindo para os Afonsos.

- Então você não tem o científico completo - argumentou ele.

- Expliquei tudo direitinho pra ele, que, depois de folhear mais um pouco, fechou a pasta e disse.

- Interessante!... Meu rapaz, como é que você conseguiu entrar na turma de 67 da EPCAR se no ano anterior você foi reprovado por instabilidade emocional?

Em vez de eu ficar de bico calado "para não entrar mosquito" - como sugeriu o Caceres ao Santos Filho - ou acatar um "por que não te calas?" - como também sugeriu o Amorim ao mesmo gajo, saí com essa pérola:

- Capitão, das duas, uma: Ou eu amadureci de um ano para o outro, ou o exame da FAB é falho!

- O homem, me fuzilando com o olhar, bradou:

- O EXAME DA FAB NÃO É FALHO! Você está dispensado, boa sorte!

- Levantei-me, fiz a continência de praxe, e acho que nem preciso dizer o tamanho da "naba" em que sentei...

Mesmo já tendo o canudo do científico na mão, resolvi voltar para a EPCAR e cursar o terceiro ano, mas já sabendo que era "carta marcada". Simplesmente levei o ano praticando mais esporte do que nunca. Em 70, fui considerado o melhor atleta da EPCAR (chamavam de Atleta 01). Fui da equipe de "cross country", ginástica acrobática, fui guia da ginástica Balalaika, fui guia na suga do Pátio da Bandeira, pratiquei atletismo me tornando o melhor atleta das competições internas "Tenente Lima Mendes" e participei da VI NAE, em Angra dos Reis, voltando com quatro medalhas. Em atletismo eu fazia 100m rasos, 200m rasos, lançamento do dardo, salto em altura, salto em distância, salto triplo, até, finalmente, saltar fora da EPCAR! He!He!He!

Aqui fora, em 1971, (tinha que ser), fui aprovado para a Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ. Formei-me professor e exerço essa profissão até hoje na Escola Americana do Rio de Janeiro (41 anos de escola). Formei-me também em Pedagogia e em Fisioterapia. Completei com mestrado em Educação pelo Framingham College de Massachusetts.

O importante disso tudo é que, no final, segui naquilo a que me propus - no esporte -, sem perder, felizmente, o vínculo de amizade com as duas Turmas da EPCAR às quais pertenço: 67 e 68.

Seria isso um CAUSO?!

67-382 Santos Oliveira