LIGEIRO ATRASO

Vim para Brasília em 1980 e até o início de 2002 não tivera qualquer notícia de nenhum dos membros da nossa querida turma de BQ/67. Felizmente, no início daquele ano, não sei como, fui localizado e convidado, por carta, para o jubileu em BQ. A carta continha os procedimentos para pagamento do evento e demais instruções para comparecimento, além do endereço eletrônico do Lyrio.

Imediatamente fiz contato com ele, que me informou e me introduziu no grupão do Yahoo. Essa “introdução” mudou minha vida: passei a me comunicar diariamente com meus ex-colegas de juventude e tomei conhecimento de que em Brasília moravam mais de vinte ex-precas, os quais se reuniam periodicamente num restaurante chamado Carpe Diem.

Todos podem imaginar a minha euforia, depois de mais de vinte anos sem notícia de ninguém, ter a oportunidade de rever, de uma só vez, tantos e tão queridos amigos. Mas a ansiedade foi tanta que acabei me enganando no dia. Mentalizei que deveria ir ao Carpe Diem na quinta, quando, na realidade, o Cáceres marcara o encontro para a quarta-feira.

Na quinta, parti para lá. Cheguei cedo. Estava marcado para 19 horas, mas às 18h e 30m eu já estava a postos, em pé, na entrada do restaurante. Vai que alguém resolve chegar mais cedo, poderia eu perder a chance de curtir um pouco mais?

Mas o tempo foi passando e ninguém aparecia. Comecei a achar, então, que o pessoal poderia ter passado por mim sem que eu reconhecesse. Afinal, contando desde 1969, havia mais de trinta anos sem contato. Eu mesmo deveria estar irreconhecível: dos 75 kg de BQ, passara, sem sentir, para 115 kg; da basta cabeleira negra de então, só me restaram esparsos cabelos brancos. Por que não poderia ter acontecido o mesmo com os outros? Certamente uns estariam carecas; outros, barrigudos e grisalhos como eu; e outros, ainda, poderiam estar de barba, bigode, cabelo pintado, enfim, parecia bastante razoável a idéia de eles terem entrado no restaurante sem que eu me desse conta. Resolvi conferir.

O restaurante tem três ambientes: varanda e dois salões. Comecei pela varanda. Em uma das mesas, vi uma pessoa que julguei que teria a aparência do Lugão aos 50 anos. Ataquei:

- Boa noite, senhores, desculpem a impertinência, por acaso vocês são da turma de BQ/67?

- Hein?

Logo vi que o tiro errara o alvo. Desculpei-me e continuei a busca. Lá no canto, mais grupo com toda cara de ser de BQ. Na minha cabeça, lá estavam o Kirchner, o Cáceres e o Ávila. Novamente:

- Boa noite, senhores, desculpem a impertinência, por acaso vocês são da turma de BQ/67?

- Não somos não, meu jovem, mas você é bem-vindo ao grupo. Toma um chope com a gente, puxa uma cadeira.

Agradeci, e continuei minha peregrinação. Afinal, sou um ex-preca e não desisto nunca. Mas naquele momento eu ainda não sabia que essa máxima teria de ser cancelada. Lá pela quinta ou sexta abordagem, a galera do restaurante começou a me manjar, pois já estava ficando, de fato, impertinente. Mas só desisti mesmo quando ouvi um dos caras, a quem abordara anteriormente, cochichar para o seu companheiro:

- Ihhh...Lá vem de novo aquele gordo viado.

Acho que os caras deduziram que eu estava a fim de arrumar algum macho para sair.

Felizmente, tudo se esclareceu no dia seguinte, quando descobri que o encontro fora na quarta-feira.

67-162 Sanches