50 ANOS ENTRE DOIS TRENS

Dia 22 de fevereiro de 1967 Central do Brasil, 22 horas. Surpresas totais, trem de subúrbio, bancos duros, de lado! Pouco, muito pouco asseio, ou seja, muita sujeira.

Caras novas, muitas, excitadas, perplexas, inicio de uma jornada rumo ao desconhecido…

Angústia de pais, mais precisamente das mães, facílimo de comprovar. Para onde vai meu menino? Vai nisso aí? Quem estava lá sabe bem o que estou narrando.

Na média tínhamos 15 a 17 anos de idade, e o corte de mais um cordão umbilical, deve ter doido muito nas nossas queridas mães.

Mal podíamos entender o que nos esperava, uma outra mãe não tão carinhosa ou afetiva como as nossas. Severa, autoritária, mas também preocupada em nos forjar homens, preparados, resistentes, tenazes para a vida – a EPCAR.

Voltemos ao trem da Central do Brasil. O primeiro grande choque – embarquem, deixe o choro, a namorada (alguns já a tinham...), o colo da mãe e encarem...

Não foi fácil sair naqueles vagões com vidros quebrados, sem locais de apoio, com sacolejos e barulhos que ainda hoje nos vêem a lembrança.

La vamos nós noite a dentro, subir a serra em direção as Gerais.

Mesmo sendo fevereiro, o frio foi e seria dali para frente sempre inclemente conosco na jornada de Barbacena.

Sentados ou deitados literalmente no chão, apoiados em malas e bolsas ou a colegas recém conhecidos, começou a nossa epopéia rumo a Barbacena a nossa BQ, e a nova etapa de vida com pelo menos 3 anos a frente.

Neste ponto destaco porque estou denominando este relato de “50 anos entre dois trens”.

Na “Gare” da Central encontrei um menino que como eu morava no Flamengo, Rio de Janeiro..

Nome diferenciado para um brasileiro, Michael Thomas Comber, mas vamos lá, ele falava português! E mostrava a mesma ansiedade e surpresa com tudo aquilo, num total estranhamento com aquele transporte. Afinal havia na época bons trens de passageiros da Central do Brasil, para São Paulo e Belo Horizonte, havia vagão restaurante, dormitório e nós no trem de subúrbio ???

Foi aí que começou a amizade que perdura e agora faz 50 anos. Nos aproximamos naturalmente, pelas afinidades e encontramos a primeira grande prova da disposição de viver um sonho – voar!

Porque entre dois trens? Hoje dia 09 de marco de 2017, coincidentemente estamos a 50 anos daquele trem da Central do Brasil. Hoje as 09:20 (em ponto) sai da Union Station em Toronto Canadá, de trem com destino a Montreal onde o Comber reside a 22 anos. Estava lá em uma conferência profissional, é a minha primeira visita a ele sempre prometida e agora finalmente podendo ser realizada.

E o trem? Ligado através de WI-FI pelo tablet e celular, falando através do Skipe com minha família no Brasil e Estados Unidos, com restaurante, banheiros superlimpos, belas poltronas reclináveis, serão 5 horas de viagem com grande conforto e sem frio, lá fora está agora menos 01 grau centigrado.

Daí os 50 anos entre dois trens.

Neste tempo de uma vida, de grandes marcas, nos preparamos, sofremos revezes, tomamos rumos diversos, mas a marca indelével é claro primeiro de nossa família e de nossa grande Escola permaneceu por todo este período.

E o que estou fazendo neste momento aqui? Digo com toda sinceridade e carinho que tenho por todos os companheiros da EPCAR da turma de 1967. Celebrando a vida e a amizade representada por meu amigo Michael, o nosso 67-151 Comber.

Escrever sobre passagens na Escola é um plano sempre adiado, mas que irá se concretizar, espero que a partir de agora.

Barbacena, o CFPM, modificaram nossas vidas, rumos diferentes foram tomados e nos levaram as mais diversas realizações tanto pessoais como profissionais. Presentes sempre a família e nossa grande Escola – a EPCAR.

Muito ainda terá que ser escrito sobre nossos anos em BQ, com uma perspectiva histórica analisando o quão importante foi para cada um, para a própria Escola e para o País, o período que por lá passamos.

Isto será tema de outros escritos, mais a frente. Prometo escreverei mais.

Agora quero CELEBRAR o fato de dois meninos poderem reencontrar-se (ele esta me esperando na estação em Montreal), após cinquenta anos, tendo como simbologia dois trens tao diferentes.

Mantendo o mesmo espirito, a amizade e os valores assimilados na Escola e que levamos para toda a nossas vidas.

Obrigado EPCAR pelo que voce representou e ainda representa passados estes cinquenta anos.

Obrigado por nos ajudar até aqui, singrando por carreiras tão diferentes – aviador e geólogo, a conquistar nossos objetivos e realizações. Foi você que nos deu as ferramentas, a base de conhecimentos e o espírito de corpo sólidos para chegarmos onde estamos.

Estou no trem “bacana”, daqui a algumas horas o trem chega e nós dois, em nome da turma de 67 da EPCAR, começaremos em terras estrangeiras, a comemorar o nosso JUBILEU DE OURO.

JUNTOS!!!!

Toronto/Montreal, Canadá, 09 de marco de 2017, 67-347 Alexandre