Como seria Barbacena sem a EPCAR?

Recebida com enorme abraço pelo povo de Barbacena, chegava nos idos de 1948 a Escola Preparatória de Cadetes do Ar, trazendo consigo jovens ávidos por seguir uma carreira cheia de aventuras, de desafios, idolatrada por todos no pós-guerra.

A Segunda Guerra se encerrava na Europa e no Japão e esses jovens eram frutos da vitória obtida por outros ídolos da Força Aérea que tão bem nos representou no teatro de guerra. Os que aqui chegavam não aceitariam ser menos do que aqueles que na Europa combateram os inimigos do eixo. A população da cidade compartilhava também dessa visão e vibrava com a chegada de seus novos habitantes, quase revestidos de heróis.

Os anos passaram; turmas sucessivas ali chegaram ano após ano, a cidade se orgulhava, interagia com a EPCAR e esta com a cidade, repleta de lindas rosas e não menos lindas jovens, que aguardavam os finais de semana quando eram liberados, para o “footing” e as “matines” no cinema Palace, os alunos da EPCAR. Eram os anos cinqüenta, sessenta, a vida passava tranqüila e refrescada por uma névoa de amor.

Eram lindas as tardes de sábado e domingo com os salões dos clubes, como o Automóvel Clube, o Olympic ou o Barbacenense, que se enchiam de jovens para dançarem e se aproximarem, e daí talvez surgindo um grande amor. Se isso, entretanto, não ocorreu com alguns casais, outros fatos surgiram com certeza para marcar seus corações, por grandes lembranças de uma juventude sadia, feliz, que ali se relacionava. Nas alamedas e ruas de Barbacena, corria o sangue epcariano que lhe dava a vida, e esse sangue percorria todo o corpo dessa linda cidade.

Os alunos circulavam pelas alamedas e ladeiras da cidade, trocando olhares e galanteios com as jovens, não sem deixar uma pontinha de ciúmes, logicamente compreensivo, dos jovens rapazes naturais da cidade, que carinhosamente eram chamados de “camofos” pelos alunos, e esses os tratavam por “coca-colas”, simples trocas de desafetos contidos, mas de um respeito irreparável.

A cidade tinha vida, vida vivida por jovens e pelas reais rosas de Barbacena, suas lindas filhas, que desabrochavam a cada turma que ali chegava, e murchavam a cada turma que dali partia. Se murchavam na presença física, perpetuavam-se no coração dos jovens que por ali passavam.
Era tudo tão harmonioso e natural que jamais se cogitou em pensar que tudo isso um dia pudesse acabar.

Um dia todos choraram...!!!

Chorou a cidade de Barbacena, choraram os alunos que por ali passaram, choraram os alunos que, naquele momento, eram informados que a EPCAR estava sendo desativada.

Barbacena perdia seu eterno amor, suas ruas ficaram mais tristes, nos seus salões de baile não se ouvia mais o ritmo que nos embalara tantas tardes por tantos anos, já não mais desfilavam os jovens alunos com suas fardas azuis, não se circulava mais, defronte ao Colégio Imaculada, para deixar um sorriso, um sinal, um tímido olhar ou um atrevido e respeitoso bilhete à jovem enamorada. “Os lindos passarinhos azuis como o manto de Nossa Senhora” não eram mais vistos pelas ruas da cidade.

 

Isabelinha estava mais triste, e também chorou.

Foram anos de luta e tentativas de convencimento para que se retomassem as atividades na EPCAR. Além das batalhas travadas para que isso acontecesse, o que mais falou, com certeza, foi “a falta que faz” a EPCAR no seu objetivo maior que é o de preparar o caráter militar dos futuros novos oficiais para a Força Aérea Brasileira.

Na segunda metade da década de noventa ressurge a EPCAR, cumprindo seu destino de formar jovens não só para a Força Aérea, mas para o Brasil.

A cidade de Barbacena não parou nesse período, lá surgindo inúmeras faculdades que trouxeram mais jovens de ambos os sexos para deixar mais florida a Cidade das Rosas. Nada mais justo do adornar a bela cidade com jovens e flores. Barbacena passou a ser uma cidade referência a nível universitário e a EPCAR, ressurgiu nesse novo ambiente, com seu efetivo menor, e não chamando mais tanta atenção das jovens barbacenenses. Mas a cidade acolhedora reconheceu o elevado nível de ensino da EPCAR, e passou a enviar mais filhos seus para o efetivo da escola, jovens de Barbacena passando a disputar vagas dentro do seu reduzido efetivo.

Foram bem sucedidos e muito bem recebidos, pois eram os filhos da cidade que nos recebera de braços abertos, e nada mais justo que esses jovens de Barbacena viessem participar fisicamente desse grande abraço.
 

Novos “points” surgiram então na cidade, como a “Vovo”, choperia da rua Quinze, o Shopping Plaza, o Cine Teatro Plaza, a boate Loft e, sempre presente, sem nunca ter fechado sua portas, o restaurante Gino’s, quase como uma historia vivida de todos os alunos e jovens que, apesar da idade hoje um pouco mais avançada, fazem do Gino’s seu ponto de reencontro e local para reviver grandes recordações, velhos amores, lindos dias.

Essa união Barbacena-EPCAR é tão significativa, tão poderosa que, entre todas as escolas militares das três armas, somente aqui em Barbacena se reúne, a cada ano, um número incontável de ex-alunos que retornam para matar suas saudades da cidade, do povo a da sua escola que tão bem os acolheram. A velha cidade os recebe sempre de braços abertos e a cada ano eles retornam, sem nunca esquecê-la.

Barbacena viveu todas as fases, da maciça presença à ausência total dos alunos epcarianos, e agora acompanha a presença modesta que a cada ano vem se elevando com o aumento do efetivo número de alunos, tendo em vista a EPCAR ter-se tornado a referência do ensino de segundo grau, junto ao Ministério da Educação; dessa forma vem chegando cada vez mais sangue para dar cada vez mais vida à velha cidade de Barbacena, mas com uma grande diferença: agora seu sangue também é barbacenense.

A escola não seria a mesma se não estivesse em Barbacena, e certamente Barbacena não seria a mesma sem seus “lindos passarinhos”. Esse amor continuará, com certeza, por toda a eternidade.

Colaboração 67-398 Ubiratan (Bira)