O NOSSO JUBILEU DE AMETISTA
16 a 18 de setembro de 2022
Barbacena – Minas Gerais

Com o sucesso de sempre, finalmente tivemos a comemoração de mais um jubileu; dessa vez, dos cinquenta e cinco anos de ingresso na EPCAR: Jubileu de Ametista.

Por pelo menos dois dias a Turma “Mete a Cêpa” viveu momentos de grande emoção na nossa querida EPCAR. O reencontro de “velhas águias; a forma amiga e cortês com que fomos recebidos pela equipe do cerimonial da Escola; as mensagens e discursos proferidos no auditório; o desfile no velho e conhecido Pátio da Bandeira; o descerramento da placa comemorativa; a foto oficial do grupão; o passeio de ônibus pelas instalações da Escola; as lembranças dos anos 60 trazidos à tona; a companhia, enfim, dos amigos de caserna, das esposas e dos demais acompanhantes nesse momento tão significativo para nós; tudo contribuiu para que a festa fosse o que foi: perfeita!

Senão, vejamos. Embora alguns membros da Turma tenham chegado a Barbacena um ou dois dias antes do início desse grande encontro, foi na sexta-feira à noite que a agitação começou, com o coquetel de boas-vindas no COEP. Aqui e ali, o que se via era muito abraço e troca de sorrisos cada vez que um velho amigo chegava. E sob as delícias do bufê, regado a bebidas de livre escolha, a festa inicial foi até onde o fôlego nos permitiu ir...

No sábado, por volta das nove da manhã, nos reunimos no Pátio da Bandeira. Mas não demorou muito e fomos para o auditório contíguo ao pátio, uma vez que o “Artarium” – o enorme cinema e auditório, assim chamado nos anos 60 –, se encontra em obras.

Com todos já reunidos no auditório, o coronel Av Fernando da Cunha Machado Costa (038), locutor escolhido pela comissão organizadora, anunciou a entrada das autoridades máximas no recinto: general de exército e ministro do Superior Tribunal Militar Marco Antônio de Farias (67-061), o tenente-brigadeiro do ar veterano Antônio Gomes Leite Filho (67-285) e o atual comandante da EPCAR, brigadeiro do ar Daniel Cavalcanti de Mendonça, sendo, então, aberta a nossa reunião.

Como de praxe, o primeiro a ter a palavra foi o comandante da Escola, o qual nos deu as boas-vindas e não se privou de expressar a sua satisfação em nos receber. Isso posto, fez uma sucinta apresentação de como funciona atualmente o ensino e a infraestrutura da Escola.

O que se seguiu foi uma série de discursos, a começar pela mensagem levada pelo nosso querido coronel Fernando (para nós, o eterno “Pitéu”!) que dizia o seguinte:



Mensagem pelos 55 anos da Turma de 67
“METE A CÊPA”
Jubileu de Ametista

Texto de autoria de um camarada da turma de 67


"Um sonho que se fez história e se tornou presença"

Começo permitindo-me parafrasear um ex-aluno desta querida escola:

“Barbacena acena em minha memória,

estórias de anos que não voltam mais…

Como um trem que apita longe,

cortando minhas saudades,

das Minas Gerais…!

Busco no tempo esses dias

em que o tempo insiste em carregar,

fazendo pouco das minhas lembranças

que vão, vagam e voltam sempre,

o tempo não tem tempo,

para quem não tem o que lembrar.

Felizes nós, que vivemos a EPCAR,

pois temos histórias, recordações e imagens,

para sempre registros eternos, que nenhum tempo é capaz de apagar.”

Queridos amigos, ex-alunos da turma de 1967, é muito lindo volver os olhos ao passado e verificar:

Nós sonhamos, lutamos e acreditamos que todos os desafios poderiam ser vencidos.

E hoje, nos alegramos com tudo o que vivemos nestes 55 anos, neste grande espaço, entre duas recordações: O Passado e o Presente.

Amigos verdadeiros têm a capacidade de se eternizar dentro da gente.

É comum ver amigos da juventude se reencontrando depois de anos – já adultos ou até idosos – e voltando a se comportar como adolescentes puros e felizes, como foram na sua imaturidade.

Encontros de turma são ocasiões especiais; por isso, resgatam as pessoas que fomos jovens cheios de alegria, engraçadinhos, capazes de atitudes pueris, como éramos há 55 anos.

Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos… mesmo que por fora só restem cabelos brancos, artroses e rugas.

Aqui estamos, mais uma vez reunidos, mais velhos com certeza, mas com o mesmo espírito daqueles jovens sonhadores, oriundos dos mais diversos rincões desse Brasil, que nos idos de 1967, garbosamente adentraram os portões desse tradicional e quase centenário velho casarão.

Essa é mais uma oportunidade ímpar de reencontrarmos os velhos amigos, uma verdadeira família que Deus nos legou.

A saudade é eterna e as emoções insistem em nos arrastar aos turbilhões das velhas lembranças.

Ainda é possível escutar a nossa amiga Isabelinha recitando: “Lindos passarinhos, azuis, da cor do manto de Nossa Senhora…“

Ainda é possível ouvir ordens, toques, bandas, sons familiares, que nos falam de um passado harmonioso e feliz...

Ainda é possível sentir saudades de nossos mestres, dessa casa que nos abrigou, da Escola de vida que até hoje nos guia, da nossa querida EPCAR...

Parabéns, queridos ex-precadetes de 67!

Que a magia de mais este momento se perpetue por toda a nossa vida!

Que o Senhor nos ilumine em cada amanhecer e faça do tempo um elo de amor, que se irradie e atinja a todos os que tiveram a felicidade de conviver fraternalmente neste memorável templo do saber.

À inesquecível Escola Preparatória de Cadetes do Ar, a nossa eterna e infinita gratidão.



Dando sequência à programação, foi convidado a nos trazer uma mensagem o General Farias.



Discurso do Gen Ex Farias

JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO
SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR

GABINETE DO MINISTRO
Gen Ex MARCO ANTÔNIO DE FARIAS
PALAVRAS ENCONTRO DE TURMA
55 ANOS
67/BQ
(EPCAR)
2022


Estimados amigos, prezados camaradas, distintos companheiros, diletos irmãos!

Acho que consegui reunir nesta gradação de nominata todas as formas de tratamento afetuoso que me permitem abraçar a cada um de vocês, em pessoa, e a todos em comunhão de princípios, amizade, respeito, consideração e saudades.

Estendo este apreço aos, também, queridos familiares e convidados da Turma de 67/BQ ora presentes e mesmo àqueles ausentes que não puderam comparecer ou que estão neste momento contemplando a face de Deus.

A todas e a todos o nosso caloroso bom dia!

Sras e Srs!

Do alto da Serra da Mantiqueira 55 anos de história nos contemplam!

55 anos... Cravados na nossa existência. Mais de meio século que nos inspiram! 55 anos vão longe!

E, no entanto, parece que tudo foi ontem.

Precas de 67, inapagável em nossas memórias aquele final de fevereiro de 1967, quando, no ardor da nossa juventude, nos encontramos pela primeira vez e juntamos, com bagagem completa, sonhos e expectativas nesta pequena quadrícula militar da Força Aérea Brasileira, de chão montanheiro, no Coração de Barbacena. Com certeza, estávamos todos esperançosos e confiantes no horizonte que se vislumbrava, a imaginação sem freios, uníssona no compasso das batidas dos nossos corações. Inesquecível o impacto córporo-cognitivo-espiritual.

A emoção de ontem, guardadas as devidas proporções, não se difere muito da emoção de hoje. Como dantes, aqui nos encontramos, na pequena quadrícula militar da Força Aérea Brasileira, de chão montanheiro, no Coração de Barbacena. Semelhante a outrora, estamos reunidos, e unidos, corações a mil, para resgatar um ciclo da nossa mocidade, um regresso, como se o tempo tivesse parado, como se nosso corpo e mente não tivessem evoluído e, no máximo, aceitado, tão somente, que nossos cabelos embranqueceram. Nada, além disto!

A força dos nossos propósitos nos faz resistir ao implacável rigor da passagem do tempo. Aqui estamos nós, de retorno à querida Escola Preparatória de Cadetes do Ar, ao reencontro da Turma e da nossa juventude.

(Abro aspas)

"A esquadrilha é um punhado de amigos,

A vibrar, a vibrar de emoção,

Não tememos da luta os perigos

Nem dos céus a infinita amplidão.

Sobre mares, planícies, sobre montes

Viveremos por sempre a voar,

Bandeirantes de novos horizontes,

Para a bandeira da Pátria elevar.

Bandeirantes de novos horizontes,

Para a suprema conquista do ar"

(Fecho aspas)

(Trecho da canção Bandeirantes do Ar, da Força Aérea Brasileira)

Senhores! Bandeirantes do Ar, com seus versos, assinalou o início das nossas jornadas profissionais. Não somente para aqueles que seguiram a carreira da aviação militar, mas, também, para todos nós, que navegamos em outros rumos, sem deslembrar o passado. Nós continuamos a formar naquela mesma Esquadrilha, seguimos sendo um punhado de amigos, avançamos, de per se, vibrantes de emoção em nossas caminhadas, enfrentando, sem temor, os perigos e desafios das nossas lutas, e, sem receios, a infinita amplidão dos céus que cultivamos. Em busca de novos horizontes, voamos sobre mares, planícies e montes e vivemos por sempre a voar, até pousarmos, cada um de nós, nos nossos destinos de agora.

Cumprimos com devoção a profecia da canção dos Bandeirantes do Ar e continuamos compondo os efetivos das Esquadrilhas de 67.

Nada mais justo, portanto, que, neste momento de união de propósitos, apresentarmos um preito de gratidão a nossa Escola-Matriz, a Escola Preparatória de Cadetes do Ar/EPCAR.

Há um tempo atrás, li um provérbio que assim dizia:

(abro aspas)

"Quando chegar ao seu destino, não se esqueça de olhar para trás e lembrar de onde você veio".

(fecho aspas)

Camaradas, olhando para trás, para nossa largada profissional, não podemos deixar de reverenciar a nossa origem, iniciação e procedência.

Profissionalmente, viemos daqui, deste Educandário, que nos ministrou o ensino médio com as disciplinas escolares. Mas, não somente este acervo. Aqui, fomos instruídos, também, na disciplina prestante, nos valores éticos e morais, no respeito às leis, às autoridades, aos chefes, aos iguais e aos subordinados, na probidade, na responsabilidade, na sã camaradagem e no amor à Pátria.

Independente de credos, ideologias, doutrinas, preferências ou escolhas, por questões de reconhecimento e gratidão, não devemos esquecer a Escola que nos forneceu a conformação segura para o seguimento das nossas vidas. Negar tal atributo seria como degustar a fragilidade moral da ingratidão.

Perquerindo a turma, observamos, hoje, a enorme diversidade de áreas profissionais abraçadas pelos nossos Precas/67. Temos militares, engenheiros, advogados, médicos, empresários, economistas, bancários, professores, comerciantes, autônomos e tantas outras honradas atividades ocupacionais, sempre enroupadas por dignos profissionais, alguns ainda na ativa e outros já aposentados. Entretanto, todos originariamente oriundos da EPCAR.

A maturidade e a firmeza de nossas crenças não nos permitem a veleidade de contestar tamanha gratidão.

Em assim sendo, apresento em nome da turma 67-BQ, Turma METE A CEPA, o nosso melhor agradecimento à EPCAR, na pessoa do seu atual Comandante, Brig Ar DANIEL CAVALCANTI DE MENDONÇA, e de todos os mestres, instrutores, professores e monitores que fizeram parte da nossa formação. A todos o nosso eterno muito obrigado!

Voando de ala na presente mensagem, apresento, também, um tributo à turma 67-BQ, Turma METE A CEPA.

Em pronunciamento anterior, semelhante a este, nos 45 anos, em 2012, tive a oportunidade de lhes trazer o meu pensamento sobre o entendimento do que vem a ser uma turma formada em estabelecimento de ensino militar. Achei pertinente para este evento (55 anos) recordar trechos daquele depoimento. Em síntese, concluí na época:

(Abro aspas)

"Busquei nos dicionários a definição do que seria turma. Encontrei ali, explicações como: um grupo de pessoas que realizam o mesmo trabalho" ou "bando", ou "cada um dos grupos de alunos matriculados numa mesma classe ou num mesmo ano escolar" ou, ainda "Turno".

Está claro que os editores de dicionário desconhecem o verdadeiro significado do verbete quando aplicado aos alunos formados nas escolas militares.

Para nós, camaradas de formação, Turma é muito mais. Turma é identidade, é símbolo, é comunhão, é analogia. Turma é marca registrada: Turma de 67!

A Turma nos distingue no tempo e no espaço escolar. Ela nos faz perder a individualidade e nos abriga na coletividade.

Turma, para nós, é parentesco, é confraria espiritual, é propriedade (minha, nossa turma), e, acima de tudo, é referência.

A Turma nos reporta a um passado comum, ao fascínio da mocidade, aos sonhos da juventude, às experiências similares, àquela intimidade confidencial, ao compartilhamento das alegrias e tristezas, dos sorrisos e das lágrimas.

A Turma é aquela que nos acolhe aonde quer que vamos ou estejamos. Solidária, ela nos impõe comportamentos e obrigações, mesmo quando já afastados da vida militar.

A Turma nos iguala a nós mesmos, ainda que possamos estar em circunstâncias diferentes.

Para não mais me estender, concluo que, para nós, a Turma é como um sistema aberto, no qual nos integramos e interagimos, trocamos energia; onde conformamos uma concepção toda própria do mundo e da condição humana, concreta e abstrata, uma concepção movida pela camaradagem, pelo respeito, fraternidade, compromisso e pelo amor."

(Fecho aspas)

(Retorno ao tributo de gratidão à Turma 67-BQ)

Assim a Turma METE A CEPA tornou-se vitalícia, perpétua e eterna em nossas existências. Jamais morreremos ou deixaremos de existir como Turma de 67, passado o tempo que for.

Estamos presentes nesta Escola, gravados em suas paredes, marcados nas pegadas que deixamos nos pátios, nos corredores, nas alamedas, nas salas de aula, nos alojamentos e instalações desportivas. E, recentemente, eternizados, inscritos que fomos nas placas de bronze, que, em local próprio, ornamentam os jardins desta casa. Para a nossa felicidade e júbilo, a Turma está guardada dentro de nós e nós guardados dentro da turma.

Prezados amigos, cabe neste ponto da alocução, abrir um espaço de meditação, de reflexão para resgatar a memória dos companheiros que já se foram e nos deixaram com os amargos sentimentos da falta, da dor e da saudade.

A ausência desses confrades é enorme, mas é compensada pelas lembranças que carregamos dentro de nós e nos permitem recontar, com alegria, como eram eles em vida e de como nós nos queríamos bem. A todos os que já partiram, a nossa homenagem e a certeza de que estamos juntos, neste ato de celebração, veneração e de convergência espiritual. Nossa melhor saudação à memória dos inesquecíveis companheiros de lembrança imorredoura.

Assim, creio ser a turma de 67-BQ: ela é a identidade, a marca registrada, a nossa história.

Agradeço ao Comendador ESTÁCIO e demais integrantes da organização deste evento pela felicidade de, superando todos os desafios e contratempos, conseguir nos trazer de volta a esta pequena quadrícula Militar da Força Aérea, de chão montanheiro, no coração barbacenense.

Grato, mais uma vez à EPCAR, ao seu Comandante Brig Ar DANIEL, aos Oficiais e Praças, professores, servidores civis, convidados e familiares. A presença dos senhores deu brilho especial ao evento.

Aos integrantes de 67-BQ, antes de um até breve, rogo-lhes um desejo: que, em nossos sonhos, jamais deixemos de imaginar um toque de corneta, um bumbo no pé esquerdo, uma fivela, flanela e latinha de Kaol, um par de borzegas, um bibico preso na cintura, um fuzil Mauser 1908, um Sítio em Cabangu, graus em Estaninos, um apartamento no H-8, um mastro fincado num pátio com a Bandeira do Brasil e, dentre tantos outros valores, os versos de uma canção.

(abro aspas)

“Escola de Barbacena

Entre montanhas e o céu de anil

Preparas para o futuro

Os jovens do Brasil”

(fecho aspas)

(Estrofe da Canção da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, da Força Aérea Brasileira)

Estimados amigos e irmãos!

Em 2027, nos encontraremos novamente nestes mesmos local e hora, com a aquiescência de Deus.

Muito obrigado e até breve!



Terminado o discurso do general Farias, quem falou foi o tenente-brigadeiro Leite.


As falas do Ten Brig Leite

Embora nosso amigo Leite Filho, descontraidamente tenha falado de improviso, alguns pontos destacamos na sua fala:

- em primeiro lugar, exaltou os esforços envidados pela Escola, por intermédio do seu comandante, bem como de toda a equipe que coordenou o nosso evento, para que o nosso jubileu fosse realizado em alto nível;

- afirmou que por tudo que passamos na Escola e, por causa dela, sempre nos vemos forçados a ela voltar e relembrar os grandes e bons momentos ali vividos, junto aos amigos que fizemos.

- sorrindo, lembrou até dos “VIs” (voos por instrumentos) que dávamos, na calada da noite, pulando o muro da Escola, para darmos uma chegadinha na... “basílica de São José”! (gargalhada geral!)

- ressaltou que são esses bons momentos que marcam e nos rejuvenescem;

- mencionou, que ao passar para a reserva da FAB destacou no seu discurso a nossa chegada a Barbacena como um dos grandes momentos da sua vida;

- por último – mas, com certeza, para ele de maior importância – destacou como um grande momento na sua vida ter conhecido a Rita. (esposa, amiga, companheira, amor de toda uma vida – diríamos nós, seus companheiros que os conhecemos ao longo de tantos anos.)



A essa altura da programação, Fernando lembrou que a nossa trajetória na EPCAR contou com a relevante participação de renomados professores, que graças à sua abnegação e competência, nos ministraram os conhecimentos essenciais à nossa formação. E como testemunho do que afirmava, convidou nada menos que um daqueles dedicados mestres – professor Tarcízio –, para mais uma vez nos brindar com a sua presença na cátedra.

Como a hora já era avançada na programação, mestre Tarcizio se fez bem sucinto no que gostaria de falar naquele momento. Visivelmente emocionado foi até onde deu... mas não se deu por satisfeito. Dois dias após o evento, já de volta à sua casa, escreveu tudo o que gostaria de ter podido dizer no auditório e nos brindou com o seguinte texto:


O que disse o Prof. Tarcizio

“Cinquenta e cinco anos depois, eis-me de volta à minha primeira turma em Barbacena, alçado a Professor de Geometria Descritiva – e depois de Geociências da qual eu nunca antes havia ouvido falar - por obra e graça do então Comandante da EPCAR, Brigadeiro do Ar João Camarão Telles Ribeiro, lá fui eu tentar enfiar linhas de terra, planos horizontais e verticais na cabeça daqueles adolescentes inquietos que queriam ganhar asas para voar.

Sádico como eu era, após exaustivas tentativas de fazê-los “enxergar” em três dimensões aquilo que era representado em apenas duas, consegui que eles vissem um “porto seguro” na linha de terra... para depois, retirar a linha de terra do desenho! Acharam que eu estava exagerando... e estava mesmo! Mas eles aprenderam a fazer épura sem linha de terra.

Disciplinado como sempre fui, seguia à risca as ordens do chefe: “cansar a turma de modo a evitar o caos e a predação na então ‘pequena’ cidade de Barbacena, onde 1.200 ‘lindos passarinhos, azuis como o manto de Nossa Senhora’ (saudades da verve da Isabelinha!), asseados, bem apessoados, fardados e com a testosterona à mil, se atiravam qual aves de rapina sobre as não mais que 200 moçoilas namoráveis – talvez menos – arrebatadas pelo azul do uniforme e pelo dourado das dragonas... e ‘enfiar’ naquelas cabeças jovens o máximo de conhecimento possível”.

Cumpríamos à risca esses dois mandamentos: oito horas de aulas diárias, cinco dias por semana, mais quatro no sábado e, à noite, atividades “extra-curriculares” até as 22:00h... a hora sagrada de dar um VI para ir “rezar” lá pelos lados da Basílica de São José!

E, como o chefe bem dizia, é preciso dar outras e variadas ferramentas de conhecimento à essa turma, pois nem todos seguirão a carreira de Oficiais Aviadores, ou de outras Forças.

Muitos optarão por carreiras civis e outros ainda serão barrados no temido exame médico do CEMAL. Não deu outra, um desses da turma de 67, Pré-Cadete Farias (67-061) barrado por apenas meio grau de astigmatismo bandeou-se para o Exército e hoje é General de Exército, Ministro do Superior Tribunal Militar.

Outro, da turma de 73, o aluno Joaquim Caracas, que queria porquê queria ser piloto de caça, acabou podado em seu sonho pelo implacável CEMAL...foi ser Engenheiro, sendo atualmente uma das maiores referências em Concreto Protendido no Brasil (com mais de 25 patentes em seu nome, entre concedidas e em fase de aprovação) e...como agradecimento ao que vivenciou na EPCAR, resolveu construir e manter (com recursos próprios, e sem pedir favor a ninguém, diga-se) um MUSEU EPCAR -TURMA DE 1973, em suas terras de Guaramiranga - CE.

Até hoje não entendo o porquê da FAB perder esses quadros singulares, afinal de contas a maioria dos pilotos japoneses dos “zeros” da segunda guerra mundial eram míopes de pai e mãe e “enxergavam” muito bem o inimigo... Pearl Harbor que o diga!

É vero que o meu prezado amigo TB Azevedo e companheiro de “Confreiria” do charuto e do vinho (Pré-Cadete 67-348) voou e hoje, na reserva, continua “pilotando” importante diretoria na FIESP...esse escapou da ceifa, assim como seus colegas de turma TB Mendes (67- 062) e Leite (67-285), além de outros Majores Brigadeiro do Ar ( Monteiro 67-129, Whitney 67- 214 e Scheer 67-266), Brigadeiros do Ar Duarte Martins (67-011, já falecido), Couto (67-015), Almeida Prado (67-040, já falecido em acidente de moto), Rigobello (67-404) e Sérgio (67-381, também falecido), além de outros tantos Coronéis, Engenheiros, Médicos, Dentistas, Empresários, Advogados e, entre tantos cidadãos prestantes, até um Arquiteto-Urbanista que espero não ter se espelhado em mim... péssimo exemplo!

Eis o retrato de uma turma vencedora, a “Mete a Cêpa” meteu mais Brigadeiros na FAB que qualquer outra, que eu saiba e, sem dúvida gerou profissionais competentes em todas as demais áreas do conhecimento. Foram os 468 (sim, porque aos 448 originários da EPCAR se somaram mais 20 “paraquedistas” que se engajaram diretamente no CFPM) privilegiados da experiência de ensino que, ao que eu saiba, foi a mais bem sucedida no Brasil...até hoje insuperada em termos de aproveitamento percentual em praticamente todas as áreas profissionais e do conhecimento disponíveis... isso durou de 1967 a 1974 e não me perguntem porque acabou!

Enfim, cinquenta e cinco anos depois o chefe Camarão pode descansar tranquilo...conseguimos formar aqueles para os quais ele sonhava ver a EPCAR como “ESCOLA PREPARATÓRIA DE CIDADÃOS APTOS A RECOMEÇAR”... chefe, aqueles que se lançaram – ou foram lançados – para fora da Força, souberam muito bem se reinventar e RECOMEÇAR, com sucesso, em outras áreas.

Mas, ao longo desse mais de meio século, aprendi que TODOS os meus ex-alunos – sem exceção que confirme a regra – são:

MASOQUISTAS – Pois depois de tanto sofrerem nas minhas sádicas mão de professor, ainda me convidam para confraternizar com eles... e, não satisfeitos me conferem um número (sou ao mesmo tempo o 67-434 e o 70-503)... são ou não são distintos discípulos de Masoc?

INSUBORDINADOS – Já decretei que meus ex-alunos estão proibidos de morrer antes deste velho Professor... mas eles teimam em desrespeitar a senioridade e continuam indo antes de mim!

CASCAS - DURA, MAS BRILHANTES – Tal qual um geodo, os solavancos do tempo enrijeceu-lhes a “casca”, mas fez brotar em seu interior brilhantes cristais arroxeados de sabedoria (a maioria), de temperança (alguns), de amadurecimento (todos), de resiliência (poucos) e de radicalismo (um ou outro)... esses são meus ex-alunos de 1967 que agora completam o seu Jubileu (do “geodo”) de Ametista e que me honraram com o convite para participar de suas festividades.

Lá chegando, já agora a eles irmanado nos cabelos brancos, conheci o atual Comandante da Escola, Brigadeiro do Ar Daniel Cavalcanti de Mendonça, com ar de menino e vontade de gente grande, que me fez lembrar meu velho chefe o Brigadeiro Camarão, pela dedicação e entusiasmo com que encara a missão que lhe foi confiada... para ele, tal como para aquele, não há tempo ruim, nem fim de semana (sua esposa não deve estar gostando disso!) e trata de imprimir com vigor o impulso da EPCAR em busca do primeiro lugar no ranking das Escolas de Segundo Grau no Brasil... Já está em segundo lugar e corre para alcançar o primeiro. Desejo sucesso a esse jovem Oficial General e lanço uma provocação: Vá além do primeiro lugar, pois a qualidade do ensino no Brasil em geral, não anda lá grande coisa (vide o PISA).

Aliás, assim que estiver com o meu querido amigo de “Palmeira d’Água” (Carandaí, para quem não sabe), Tenente Brigadeiro do Ar Luís Roberto do Carmo Lourenço (que presidiu a cerimônia de posse do Brig. Daniel no Comando da EPCAR), vou externar a ele a minha satisfação em ver aquela Escola onde iniciei a minha carreira profissional, nas mãos de tão entusiasmado e comprometido Comandante... às vezes a Aeronáutica acerta na escolha, mas não é sempre.

E eu vi isso em 1974 com o desmantelamento de tudo aquilo que ali criamos a partir de 1967, inclusive com o sucateamento do Parque Museu Santos Dumont, em Cabangú, que agora o Brig. Daniel opera para reabrir (preservar a história, infelizmente não é o nosso forte)... “mala suerte!”

E este velho ex-professor acidental, se entristece ao ver que largamos em excelência de ensino até antes da Coréia do Sul (para só falar dela), e hoje... bem, hoje ela está décadas à nossa frente, que o digam as 12 (doze) horas diárias de aulas e estudo a que se submetem seus estudantes, por iniciativa própria, para não serem taxados de ociosos pelos seus mestres.

Mas, como tudo tem um preço, eles também lidam com uma alta taxa de suicídios por fadiga, stress e...incapacidade em acompanhar o ritmo.

Achar o ponto de equilíbrio, a sintonia fina, entre o “arrocho” e o “afrouxo”! Eis o grande desafio para essa nova geração de Mestres da qual me despeço com a amargura de ver o Brasil na rabeira do PISA.”

SÃO PAULO, 20 DE SETEMBRO DE 2022



A vida de aluno da EPCAR nos marcou de forma indelével, propiciando-nos as mais sublimes e gratas recordações. E para relembrar alguns desses momentos, o tenente-coronel Av Zander, ex-aluno 67-270, foi convidado a fazer uso da palavra.


O que disse o Zander

“Não vou falar daqui, da plataforma, pois é muito longe da plateia. Só vim à plataforma para exibir o meu bute, com que apareço dormindo na foto com que sacaneio alguns.

Estive em um evento coletivo em que houve separação por grupos. Um monitor me perguntou se eu não iria para os "senescentes" da Sala X. Eu: "Mas não sou senescente..." Ele: "É, sim, o Sr. é velho".

Na etimologia da palavra senescente, há o radical "sen", que também está em senhor, senhora, senil, senilidade, senioridade, sênior, senescência... Senescência é envelhecimento, o oposto de adolescência. Não estamos aqui por causa da nossa senescência, mas por causa da nossa adolescência, etapa emocional da nossa vida, com intensa intimidade de convívio.

A FAB teve uma Organização Militar, o CATRE, Centro de Aplicações Táticas e Recompletamento de Equipagens, cujo lema, em latim, era "Audaces Fortuna Juvat" (A Sorte Favorece os Audazes). Atrevo-me a afirmar que, em 1967, fomos chamados para uma maratona. Quem nos chamou? Ninguém, nós mesmos, Nosso "elã vital", o do Sartre, um fogo interno. Em 1967, conhecemos o posto de brigadeiro, o oficial general, o topo da carreira. Na Bíblia, há um versículo, em Mateus 22:14, "Muitos serão chamados, mas poucos escolhidos".

Quem foram os "escollhidos" e chegaram ao fim da maratona? Na turma 67, onze! General 61Farias. Tenentes-brigadeiros 62Mendes, 285Leite Filho e 348Moura Azevedo. Majores-brigadeiros 214Whitney e 266Scheer (Nesse ponto, foi interpelado pela plateia por ter-se esquecido do 129Monteiro). Brigadeiros 11Duarte Martins, 15Couto, 40Almeida Prado, 381Oliveira Freitas e 404Rigobello. (Logo, 12, em vez de 11).

Dos doze, dirijo-me aos dois aqui presentes, o Farias e o Leite. Normalmente, vocês ostentam seus postos no exercício de alguma prerrogativa, como ocorreu na entrada no auditório. Primeiro, entrou o baixo clero, nós. Por último, vocês. Mas, agora, atrevo-me a fazer aos estrelados da Turma 67 uma reverência, um "honra ao mérito" pelo fato de que chegaram ao final da maratona competida por todos nós.

Muito obrigado!”



O auditório foi ainda palco para uma homenagem prestada ao nosso querido amigo De Lucca (67-282), que por residir em Barbacena, foi bem “explorado” nesse jubileu. Intercedeu por nós nas questões internas junto ao comando da Escola, tendo ido àquela instituição várias vezes; externamente, sondou incansavelmente serviços e preços de vários bufês, buscando o melhor custo-benefício para nós; “marcou em cima”, o tempo todo, a gráfica responsável pela confecção e colocação do outdoor da Turma saudando e agradecendo os barbacenenses; sondou vagas e preços em hotéis para nós; enfim, gostaríamos até de dizer que o rapaz só não fez chover, mas nem isso podemos dizer, já que – coisa que nunca havia acontecido em jubileus anteriores –, dessa vez aconteceu: choveu. (Esse cara é bom!). Por tudo isso, em nome da Turma, recebeu das mãos do 67-281 Lyrio, seu amigo de armário no primeiro ano (no bom sentido!), uma placa em estojo. Eis o que disse o Lyrio no momento da entrega da placa:


Palavras do Lyrio

“Bom dia e bem-vindos, veteranos alunos, familiares e autoridades.

Mas, vamos ao assunto.

Um encontro quinquenal como esse de hoje não é fácil de organizar. É como um quebra-cabeças cujas peças precisam ser cuidadosamente encaixadas para que o resultado final não desaponte o público-alvo.

Para chegar a este nível de sucesso, toda vez é constituída uma comissão que fica encarregada de pensar datas, enviar a convocação aos alunos, sequenciar os eventos pré e durante a reunião, discutir programação visual, fazer os contatos necessários com os diversos fornecedores (camisetas, bonés, placas, faixas, outdoor, serviço de Buffet, etc.) e providenciar a devida cobertura de capital para fazer face às despesas.

Há também uma tarefa maiúscula que é o contato com as autoridades desta nossa Escola que atuam como facilitadores e nos abrem os caminhos.

Há um elemento nesta comissão que se destacou pelo seu empenho acima e além do dever em vários quesitos acima enumerados.

O nosso inside man, 67-282 De Lucca.

Sendo morador da cidade, a comissão confiou a ele uma gama de tarefas as quais ele desempenhou com eficiência e rapidez às vezes até surpreendente. Foram muitas missões, acreditem.

Gostaram da recepção que a Escola nos está proporcionando ? Agradeçam ao trabalho dele junto às pessoas daqui da Escola. E do outdoor? Ele. E o buffet? Ele fez a cotação com vários fornecedores e submeteu à apreciação da comissão.

E por aí vai. Acredito que todos desta comissão estão de acordo de atribuirmos a ele 90% do sucesso deste nosso encontro.

Isto posto, queremos passar a ele esta homenagem como símbolo do nosso reconhecimento e gratidão.

Por favor, aplausos para ele.”



Dizeres da placa

Por ocasião das comemorações dos seus 55 anos de

ingresso na EPCAR, a Turma “Mete a Cêpa” agradece

e presta uma singela homenagem ao

67-282 VICTOR OMAR DE LUCCA FERREIRA

pelos relevantes serviços prestados

na organização do Jubileu.

Barbacena, 17 de setembro de 2022.



Feita a homenagem ao De Lucca, Estacio foi chamado para as últimas palavras. Aproveitou a oportunidade para reiterar agradecimentos e para apresentar os membros da comissão organizadora. Fez ainda um “apelo” para que todos se comprometessem a não morrer até 2027, ano do nosso jubileu de diamante! Brincadeiras à parte, Fernando deu então como encerrada a reunião no auditório. Partimos para o pátio.

A formatura no Pátio da Bandeira foi presidida pelo nosso velho amigo Gen Farias, e contou com o - já tradicional - hasteamento da nossa insígnia pela dupla Passos e Santos Oliveira.

Durante o desfile tivemos o hino do aviador e a canção da EPCAR cantada à moda antiga; isso porque, do último jubileu para cá, houve uma modificação na letra da canção.

Carminha e Sônia desfilaram conosco em memória ao Coré e ao Alexandre, respectivamente. A QODent Cel Hirata, apresentada pela primeira vez à Turma no Segundo Encontro em Salvador e hoje considerada parte integrante da mesma, também desfilou.

Seguimos para o placódromo onde, sob muita emoção, a placa comemorativa foi descerrada pelo trio Estacio, Carminha e Sônia; estas duas, mais uma vez, representando seus saudosos maridos.

Próximo passo foi a foto do grupão na frente da Escola. Aliás, dessa vez tivemos a foto dos ‘precadetes’, a foto das damas e a foto mista, cada um com a sua cara-metade (exceto os que, é claro, foram em ‘voo solo”!)

Antes de partirmos para o COEP, onde seria servido o almoço, ainda tivemos tempo para duas atrações: visitação a um salão histórico, recém-criado, próximo ao placódromo, em frente às salas onde tínhamos aulas de Francês e Inglês (Pátio da Paineira, quem não lembra?!); e um tour pela Escola em dois ônibus, com guias.

Seguimos para o almoço no COEP, o qual se estendeu até o cair da tarde.

À noite, tivemos o coquetel de despedida, ao som de música ambiente, tal como no primeiro coquetel, sob a responsabilidade da dupla Corrêa da Cunha e Alevato. Tudo na medida certa!




AGRADECIMENTOS

Não poderíamos deixar de registrar o nosso reconhecimento e manifestar os agradecimentos ao comandante da EPCAR pelo irrestrito apoio e pronto atendimento às nossas demandas, ressaltando o papel do Cel Av Carlos Eduardo, que com sua boa vontade e colaboração, em muito facilitou o nosso trabalho.

Agradecimentos extensivos ao Major Castro e sua equipe. Sem o apoio destes nossa festa não teria sido o sucesso que foi. Nosso muito obrigado a todos!

Agradecimentos a todos os companheiros de Turma, assim como seus acompanhantes que se esforçaram para comparecer. Vocês só fizeram abrilhantar o evento!

Por fim, nossa compreensão e reconhecimento àqueles que embora tivessem planejado estar conosco nesse encontro, por motivos diversos não puderam levar a efeito suas intenções. Entendemos perfeitamente, já que imprevistos acontecem ...

A todos, nosso abraço!

A Comissão.



Fotos

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